terça-feira, 22 de maio de 2007

Despedidas ao nosso colega Djalma

Um colega nosso se foi!
Apesar do pouco tempo em que ficou entre nós, nos deixou alguns feitos, entre estes, o nosso blog.
Convivemos com ele o suficiente para percebemos que seu intuito maior é solidarizar o conhecimento, vimos isso em suas ultimas postagens, em que scaneou um livro para todos terem acesso, ou quando tirou Xerox para todos na sala e não quis cobrar, se dispôs a ficar responsável pelos textos e nos facilitou em muito nossas leituras.
A reflexão que faço como tutora é da sua apresentação, na qual disse o que fazia, o pensava do curso, o que esperava. Dentre estas suas falas a de que viveu para o trabalho, vivia e acordava banco, esqueceu-se até de sua família e assim acabou sofrendo um assalto e após descobriu um problema de saúde em que um médico lhe disse que teria apenas noventa dias de vida, então pensou em listar o que ainda lhe restava fazer e assim me disse: “listei, descobri que tinha mais do que eu não tinha feito do o que tinha e assim, aqui estou!”
Sendo assim, depois destas falas, faço uma reflexão como ser humano e concluo que existem pessoas que passam, mas que nos marcam, por nos fazer refletir, mesmo que seja por um curto tempo de convivência, nos deixa os mais profundos pensamentos.
Esta é uma pequena e singela homenagem, mas com mais altos valores ditos e ouvidos de um ser humano que nos vai deixar saudades, o nosso colega Djalma Dantas, que esteja onde estiver sendo um anjo, como o chamei, da busca e da solidariedade nos caminhos do conhecimento.
O curso convida os alunos para a missa de 7º dia, hoje (quarta-feira, 23/05/07), na igreja do Orlando Dantas.
Qualquer dúvida liguem para o curso (79)3223-4140

Intolerância

Revista Veja-Edição 2009-23/05/2007.


Militantes reagem ao debate sobre as cotas
com ameaças e apologia da violência física


Marcelo Bortoloti

O poeta alemão Heinrich Heine cunhou, no século XIX, a seguinte frase a respeito da intolerância intelectual: "Os que queimam livros acabam queimando homens". Heine alertava para a existência de um caminho natural da censura ao pensamento, que levaria à barbárie. No Brasil, há grupos tentando criar um atalho. O debate em torno da Lei de Cotas e do Estatuto da Igualdade Racial tem provocado manifestações destemperadas de integrantes do movimento negro. A simples notícia do lançamento de um livro sobre o tema, Divisões Perigosas: Políticas Raciais no Brasil Contemporâneo, publicado pela editora Civilização Brasileira, fez com que seus organizadores começassem a sofrer ameaças. A obra traz 34 artigos que, no conjunto, questionam a racialização em curso no país. Atacam principalmente a idéia de que o preconceito racial é que define as desigualdades sociais. Imediatamente surgiram, na internet, textos que falam em guerra, sugerem ações organizadas no dia do lançamento do livro e chamam de "escravos" dois dos autores, que são negros e militantes do movimento, mas têm opinião própria. "Eu estou com medo", diz a antropóloga da UFRJ Yvonne Maggie, que está entre os organizadores.



Yvonne: "Estou com um medo que havia muito não sentia"


A discussão sobre as cotas vem gerando uma crescente exasperação. Em uma reportagem sobre o tema no jornal O Estado de S. Paulo, na semana passada, o antropólogo Júlio César de Tavares, militante do movimento negro, pregou a violência física. "Chega um momento em que o diálogo se esgota", disse. "Acho que o racista na rua tem de apanhar." Frases assim são ainda mais assustadoras quando encontram respaldo no governo. Em março deste ano, a ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, puxou o coro da intolerância em entrevista à BBC: "Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco", disse. Com manifestações desse tipo e ameaças cifradas, quem perde são todos os brasileiros. Sem distinção de cor.

O pobre e o negro

André Petry
O pobre e o negro -Revista Veja- edição: 2009- 23/05/2007.

"As políticas raciais beneficiam uma elite
negra, que chegou lá e precisa de ajuda
para lá ficar, e não a imensa maioria negra,
que é pobre e não consegue sair do lugar"

O sociólogo Carlos Antonio Costa Ribeiro, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), acaba de embarcar para os Estados Unidos, a convite da Universidade Princeton. Vai apresentar aos americanos seu trabalho intitulado "Classe, raça e mobilidade social no Brasil". É uma pena que a Secretaria de Igualdade Racial, da ministra Matilde Ribeiro, não tenha tomado a mesma iniciativa de Princeton. O trabalho do sociólogo é um poderoso facho de luz na discussão racial no Brasil. Com base em dados colhidos pelo IBGE em 1996, e aplicando fórmulas estatísticas ilegíveis para um leigo mas que não comprometem a compreensão do texto, Costa Ribeiro chega a conclusões que todo estudioso do assunto deveria conhecer.

• Entre os mais pobres, a chance de subir na vida é determinada por sua origem de classe, e não pela cor da pele. Ou seja: os pobres enfrentam dificuldades para chegar lá porque são pobres, e não porque são negros. Exemplo: o filho de um modesto trabalhador urbano tem 1,3 vez mais chance de melhorar de vida do que o filho de um trabalhador rural – e não importa a cor da pele de cada um.

• Entre os mais abastados, as coisas mudam. A chance de se manter no topo da pirâmide é maior entre os brancos do que entre os negros ou pardos. Exemplo: os filhos brancos de profissionais mais graduados têm duas vezes mais chance de ficar no topo do que de cair; já os filhos negros e pardos desses profissionais têm 1,2 vez mais chance de se manter lá em cima.

Ao analisar as oportunidades educacionais de brancos, negros e pardos, o sociólogo encontrou um cenário semelhante. Nos níveis escolares mais baixos, como o ensino básico e o ensino médio, o peso da origem de classe é maior que o peso da cor da pele. Mas, nos níveis escolares mais altos, como concluir o primeiro ano de universidade ou diplomar-se, o peso da cor da pele aumenta. Exemplo: para completar o ensino médio, a pobreza é um obstáculo seis vezes maior que a cor da pele, mas, para cursar o primeiro ano de universidade, a pobreza é um obstáculo 2,5 vezes maior que a cor da pele.

O que tudo isso significa? Que há mais desigualdade racial na cúpula da sociedade brasileira do que na base. Costa Ribeiro escreve: "Esta conclusão nos leva a sugerir que a discriminação racial ocorre principalmente quando posições sociais valorizadas estão em jogo". O trabalho do sociólogo prova estatisticamente que existe discriminação racial no Brasil, o que não é novidade. Também prova que, mesmo na universidade, mesmo nos bons empregos, mesmo nos ambientes onde a discriminação racial cresce, a origem de classe sempre pesa mais que a cor da pele. Sempre.

Portanto, as políticas raciais do governo beneficiam uma elite negra, que chegou lá e precisa de ajuda para lá ficar, e não a imensa maioria negra, que é pobre e não consegue sair do lugar. Isso sugere que o governo seria mais justo e eficaz com negros e pardos se combatesse a pobreza. O movimento negro, em vez de ameaçar professores, deveria pensar nisso.