Rodorval Ramalho - Sociólogo O Espectro do Totalitarismo - I23-04-2007 16:49
Jornal CINFORM -Edição 1256
Uma das marcas do sucesso da propaganda de esquerda, no Brasil e no mundo, é a popularização da idéia de que o nazismo é antípoda do comunismo. Nada mais falso. O nazismo e o comunismo são duas faces da moeda totalitária. Não podemos esquecer que o nome mesmo do partido nazista era Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores. Entretanto, as afinidades não se limitam à denominação partidária.
As duas maiores máquinas de matar da história das civilizações também têm em comum o objetivo de fundir Partido-Estado-Sociedade, reservando à estrutura partidária o domínio absoluto dessa fusão. Para o delírio nazi-comunista, nada pode ficar fora do domínio do partido.
O controle buscado pela mente totalitária exige o monopólio dos discursos e sua homogeneização. Para tal, os dois métodos largamente usados por esses irmãos siameses se concretizam na eliminação física dos dissidentes e na propaganda massiva.
Outra característica comum às duas ideologias é o que se chama de hipersocialização do indivíduo. Em outras palavras, como todas as esferas da vida social devem obedecer aos ditames da onisciência do Partido, busca-se eliminar as vontades individuais uniformizando-as sob o ponto de vista partidário. Obviamente, não é preciso dizer que tais sociedades não convivem com pluralidade partidária. Hitler, Fidel, Mao, Stálin, Pol Pot et caterva jamais suportaram concorrentes.
O culto ao egocrata é mais uma afinidade entre esses regimes. Não há regime totalitário sem um Big Brother, um Guia Genial dos Povos, um Grande Pai. Para além das razões psicanalíticas, amplamente demonstradas em estudos seminais, a mentalidade totalitária destrói as mediações políticas, centralizando o conjunto das ações nas esferas do partido, que é reduzido ao comitê central que, por sua vez, sacrifica tudo no altar do ególatra.
O indivíduo é sempre o grande alvo dessas duas ideologias. Não é por acaso que eles pensam e falam sempre coletivamente. Para “eles”, o indivíduo tem que ser varrido do mundo, pois suas liberdades econômicas, políticas, estéticas, religiosas, morais atrapalham a harmonia, desequilibram o coletivo, fissuram a totalidade, perturbam o consenso, subvertem o planejamento, incomodam a onisciência.
Para o habitus totalitário, a batalha de idéias é a ante-sala da degeneração do grupo. O contraditório é o empecilho da marcha da história. O dissenso, a marca do caos. A dúvida, um desvio impuro. O imponderável, um mito a ser superado por quem “faz a história”.
Nazismo e comunismo expressam um projeto de sociedade que objetiva intervir ideologicamente em todas as dimensões da vida social e individual, da cosmologia à biologia, da estética à psicologia, da lingüística à economia, da arquitetura à moral. Mais do que isso, tais ideologias tentam reduzir todas as esferas sociais à esfera política, construindo um Estado com pretensão de controle de todos os atos e pensamentos dos indivíduos.
À mentalidade nazi-comunista também não falta a disjunção entre meios e fins, fundamental para justificarem as suas atrocidades sempre em nome de um futuro distante, limpo, saudável, harmônico e controlado.
O século XX derrotou o nazismo e o comunismo, como regimes políticos, entretanto, o ideário coletivista ainda demonstra enorme influência no mundo inteiro. Não estou me referindo somente à terceira onda totalitária (o islamismo), mas a todos aqueles que massacram o indivíduo, tolhendo-o com amarras estatais, partidárias e de várias outras formas coletivistas.
No fundo, talvez o que unifique as correntes totalitárias seja a tentação de refundar a natureza humana ou simplesmente de, negando a sua existência, aboli-la, acreditando poder impedir nossas falhas, incompreensões, maldades e desejos. Esta tentação de colocar o ser humano numa prancheta e brincar de Criador deixou um saldo de mais de 150 milhões de mortos somente no século XX.
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